Eu nã sou nada,não posso querer ser nada.A parte disso,trago em mim todos os sonhos do mundo.Não sou,de facto,nada.Um imenso nada que se arrasta mais por hábito que por prazer.O que faço eu aqui ? Porque estou a escrever este texto ?Por que raio insisto em acordar todos os dias? Não sei.Talvez a ideia romanesca de um amor idealizado me faça arrastar a carcaça até à vida,até ao mundo.Carcaça solitária a minha.Como as outras.Estamos todos condenados a ser carcaças solitárias.E a morrer.Então que faço eu aqui?Porque foi que nasci? Para servente de todos os que me rodeiam ? Ou terá sido para ser escrava de mim ?Não sei . Talvez eu esteja cá por ser EU e por EU ser importante.Mas importante para quê? PORQUÊ?Talvez eu não passe de uma cabra egoista que se assusta com a sua finitude,com a crueldade que é morrer e saber intrinsecamente que o mundo vai continuar a girar,que o sol vai nascer no dia seguinte.E no outro.E em todos os outros.Talvez eu tenha sido só um engano da nataruza.Provavelmente

fui.Não tenho a natureza pacifica das galinhas,que vivem só por viver,sem sequer saber que vivem e que um dia vão morrer.Não tenho o dom de não ser nada senão uma vaca que rumina e pasta e rumina e pasta e se multiplica em mais vacas que vão pastar e ruminar para toda a eternidade.Seja isso o que for.Infelizmente nasci com uma cruel consciência de mim.DE MIM ,aquela que está em mim quando me olho nao espelho,aquela que me fala de noite,a que me sussurra aos ouvidos músicas de embalar...Infelizmente para mim não nasci com o dom de não saber quem sou.Eu nao só eu e eu não sou assim. Eu sou como os outros me fazem ser.E apareço aos outros como nunca me pode aparecer a mim .E sim, eu não sei ser mais que uma estupida adolescente de 17 anos,preocupada com as idiotices com que se preocupam as adolescentes de 17 anos.Sim, se calhar eu sou só uma miúda cujo maior problema é escolher a cor da roupa que vai vestir amanhã.E se for? Qual é o mal ? Eu já disse que não sou nada! Ninguém pode cobrar nada de mim ,porque eu sou NADA! Apesar disso,gostava de poder disfrutar da paz que deve ser viver sem consciência de mim,sem saber que estou miraculosamente viva e sem ter a cruel certeza que vou morrer.